Milho na várzea: o Know-how com a água fará diferença
No painel que abriu os encontros técnicos da ExpoCamaquã, o professor e consultor Paulo Régis mostrou a viabilidade da cultura no sistema de produção em terras baixas
A apresentação de estudos sobre o cultivo de milho em seis estações experimentais e 25 unidades demonstrativas de municípios da Metade Sul foram apresentados nesta segunda-feira (15) na noite de abertura dos painéis técnicos da ExpoCamaquã 2023.
Compilados pelo professor de Agronomia e consultor do Irga, Paulo Régis Ferreira da Silva, que há dez anos trabalha com pesquisas sobre o cultivo de milho em terras baixas, os dados mostram o potencial e a viabilidade da cultura em rotação com arroz e soja.
“A diversificação de cultivos em terras baixas proporciona melhor gestão de preços e de riscos climáticos”, disse Paulo Régis ao defender a inserção do milho no sistema de rotação desde que respeitada uma lista de critérios e condições operacionais.
Régis disse considerar uma produtividade satisfatória de milho uma colheita que atinja de 10 a 12 toneladas por hectare nesses solos, algo equivalente a 167 sacos/ha. Porém, esse número pode ser mais dilatado conforme o manejo aplicado.
A boa gestão de uma lavoura de milho, conforme o professor, contêm uma série de requisito por se tratar de uma cultura mais sensível aos aspectos climáticos do que a soja, por exemplo. Entre esses cuidados estão a escolha de áreas adequadas ao cultivo, que diminuam o nível de riscos, a sistematização dos locais, sendo observadas as regras de suavização, drenagem e irrigação, a adubação compatível e a correção do PH (acidez e alcalinidade) do solo.
Ao citar os estudos da Embrapa, contidos numa publicação de 2017, e das duas circulares técnicas emitidas pelo Irga nos últimos dez anos, Paulo Régis também chamou a atenção para escolha do tipo de irrigação – sendo o mais recomendado o sistema sulco-camalhão.
A opção pela variedade híbrida, a densidade e época de semeadura, além das ações de proteção a doenças e pragas, como a cigarrinha e a lagarta de cartucho, se constituem em cuidados fundamentais para uma boa performance produtiva.
No painel, mediado pelo agrônomo e chefe do escritório regional do Irga, Marcelo Ferreira Ely, que teve a participação de técnicos e produtores rurais, Paulo Régis listou as vantagens agronômicas e econômicas ao sistema proporcionadas pela introdução do milho.
O palestrante trouxe uma planilha com valores de duas épocas de aferição: junho de 2022 e fevereiro de 2023, quando o custo com adubos e químicos havia diminuído. Na mais recente, uma lavoura que alcançou 10 mil kg/ha teve um desembolso de R$ 8.308,00 contra uma receita de R$ 14.056,00. Já numa área com produtividade de 15 mil kg/ha, o custo foi de R$ 11.405,00, com a receita chegando a R$ 21.085,00.
Outros fatores corroboram para estimular a cultura nas áreas de várzea. O professor chamou a atenção para a forte demanda pelo cereal no mundo, começando pelo Rio Grande do Sul, que produz pouco mais da metade que consome, havendo a necessidade de se comprar de outros estados e países 2,6 milhões de toneladas. O desequilíbrio, lembrou Paulo Régis, se deve a redução do plantio de milho nas terras altas do Estado. De uma área de 2 milhões de ha, hoje temos 800 mil ha. A opção pela soja, com menor custo e menos vulnerável ao fator hídrico, explica a diminuição.
Experiências
O painel também trouxe as manifestações de Davi Piazzetta, técnico responsável pelas parcelas de milho na Estação experimental da AUD-Irga em Camaquã, que destacou o método de irrigação aplicado na área, de Vinicius Almeida, produtor em São Lourenço do Sul, e de Volzear Longaray Jr, de Camaquã, que trouxeram suas experiências com o milho nas suas propriedades.
Já o agrônomo Everton Fonseca, chefe do Departamento de Irrigação da Associação dos Usuários do Perímetro de Irrigação do Arroio Duro (AUD) exibiu as ações da entidade para adaptar a oferta de água às mudanças do modelo de sistema de produção, agora com as culturas de sequeiro.
Alex Soares/Assessoria de Imprensa ExpoCamaquã