O Dia em que o RS ingressou no Primeiro Mundo da Pecuária  

 O Dia em que o RS ingressou no Primeiro Mundo da Pecuária  

“Temos que comemorar e muito, pois estamos entrando no primeiro mundo da pecuária mundial, mas mais do que nunca precisamos ser vigilantes e rápidos a qualquer sinal”. Assim o presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira resumiu a sensação dos produtores com recebimento do comunicado que fez a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), na sua 88ª Sessão Geral da Assembleia Mundial dos Delegados, nesta quinta-feira (27), de que o Rio Grande do Sul e mais seis estados são agora regiões livres de febre aftosa sem a necessidade de continuar imunizando os seus rebanhos.

Além da pecuária gaúcha, as do Paraná, Acre, Rondônia e partes do Amazonas e do Mato Grosso também avançaram o seu status. Hoje, 70 países possuem essa condição sanitária.  

O líder da Federação da Agricultura do RS lembra que pertencer agora a esse time significa poder exportar com um selo extra de qualidade a um seleto grupo de países que importam proteína animal apenas de regiões livres da doença e que não vacinam. Ele cita como exemplos o Japão, o Canadá, o México e a Coreia do Sul.

“O importante agora é essa nova condição ser duradoura. Para isso, precisamos fazer a nossa parte. Assim como o serviço oficial de vigilância aumentará a sua fiscalização nas áreas de fronteira, portos e aeroportos, nós produtores temos que reforçar a nossa vigilância dentro das propriedades, reforçar os nossos fundos garantidores privados e a qualquer sinal, acionarmos o serviço público veterinário para a realização de diagnóstico”, ponderou Gedeão Pereira, coordenou, em 2020, um processo de votação com a participação dos sindicatos rurais filiados à Farsul para deliberar o tema. A maioria optou pelo avanço do status.

O referendo serviu de base para a Secretaria Estadual da Agricultura do RS, então comandada pelo secretário Covatti Filho, avançar no cumprimento das exigências feitas ao Ministério da Agricultura, responsável pelo encaminhamento do pedido feito pelo Ministério da Agricultura junto à OIE.

“A parceria entre o serviço veterinário oficial e o setor produtivo tem sido a base fundamental para os avanços conquistados. Agora, o Ministério segue, junto ao setor privado, com o desafio de manter a condição do país de livre da febre aftosa e de caminhar rumo ao objetivo de ampliar as áreas com reconhecimento de livre sem vacinação”, disse o secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, José Guilherme Leal, que assim como o dirigente da Farsul participou de uma conferência semi-remota na manhã desta quinta-feira, feita a partir de Brasília. Promovida após o anúncio do órgão internacional, a reunião foi comandada pela ministra Tereza Cristina e teve a participação de governadores, autoridades sanitárias e representantes de entidades.

Governador ressalta cooperação  

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que estava em Brasília, disse que o momento é “de entendimento da responsabilidade que os estados passam a ter”. E complementou: “Esse passo só foi possível de ser dado porque houve muito esforço de toda uma equipe técnica fortemente dedicada para fazer os investimentos necessários. O dia de hoje reforça minha crença na cooperação e na colaboração”.

Na Secretaria Estadual da Agricultura a quinta-feira também foi de comemoração, após o anúncio, que foi acompanhado por um grupo de lideranças reunido no auditório do órgão, em Porto Alegre. Com os técnicos estavam representantes do setor produtivo, convidados para a transmissão do anúncio, projeto num telão. A última conquista sanitária tinha sido alcançada em 2015, quando o Estado tinha se tornado Área Livre de Peste Suína Clássica. Para acompanhar o anúncio, à época, uma delegação viajou a Paris, sede da OIE.

O presidente do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal do RS, Rogério Kerber também comemorou a confirmação.  “Remete o RS a uma condição diferenciada perante os mercados internacionais”, disse ele ao elogiar a qualidade da produção de proteína animal gaúcha. Kerber também destacou a excelência do serviço veterinário oficial do Estado que, mesmo em condições difíceis neste período de pandemia, respondeu às exigências do Ministério da Agricultura e realizou todos os procedimentos necessários para a certificação.

Criado em 2005, o Fundesa vem atuando para o aprimoramento do trabalho da defesa sanitária animal no Rio Grande do Sul, propondo e investindo em ações para a capacitação estrutural e profissional dos serviços.

A Febre Aftosa

A doença que afeta bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos e suínos sempre gerou preocupação e gerou polêmicas. Os prejuízos diretos e indiretos ocasionados pela doença, bem como as limitações à comercialização de produtos pecuários, exigem dos produtores rurais e das autoridades sanitárias um constante esforço para prevenir a doença e proporcionar condições para sua erradicação.
 
No Brasil, o último foco da doença ocorreu em 2006 e todo o território do país é reconhecido internacionalmente como livre da febre aftosa (zonas com e sem vacinação) desde 2018. Até este momento, apenas Santa Catarina possuía a certificação internacional como zona livre de febre aftosa sem vacinação. 

No Rio Grande do Sul, a doença deixou traumas. Em agosto de 2000, 20 focos da doença se espalharam em quatro municípios do Noroeste do Estado. Isso aconteceu quatro meses após o Estado ter liberado os criadores da vacinação dos seus rebanhos. Somente em fevereiro de 2001 os focos foram extintos, com a dizimação de 11 mil cabeças.

Palavras com emoção

“E a consagração. Cumprimentamos o governo gaúcho que teve a percepção daquilo que os setores de produção almejavam: alcançar uma condição diferenciada para se apresentar aos mercados.”

Rogério Kerber – presidente do Fundesa

“Foi uma decisão madura. Nos preparamos ao longo de 20 anos para estar aqui hoje. Nos preparamos tecnicamente, treinamos o pessoal, georreferenciamos nossas propriedades. Não foram 20 dias ou 20 meses.”

Rosane Collares – Diretora do Departamento de Defesa Agropecuária da SeapDR

“Momento histórico para a agropecuária nacional, baseado em ciência e décadas de dedicação de milhares de pessoas, dirigido ao objetivo comum de progresso no cenário mundial de produção de carnes.”

Bernardo Todeschini – adido agrícola do Brasil na União Europeia

“Daqui a dez, vinte ou trinta anos lembraremos deste 27 de maio”

Ernani Polo, deputado estadual e ex-secretário da Agricultura

“A gente enxergou o esforço de todos os técnicos. E isso que foi construído, agora temos que levar adiante, continuar avançando”

Helena Rugeri
“Isso nos dá uma obrigação maior. A partir de amanhã temos que manter isso. Cada vez mais essa constância terá que ser reafirmada diariamente.”

Luiz Fernando Rodriguez Jr – secretário adjunto da Agricultura

Edição: Alex Soares com contribuição de Thaís D´Ávila

Boletim do anúncio da certificação da OIE/Thaís D'Ávila