Descredenciamento: incentivo à indústria local de aves é a causa da decisão árabe
O investimento de cerca de US$ 2 bilhões de um grupo saudita de alimentos na ampliação de sua planta frigorífica local de aves é a principal hipótese para a decisão da Saudi Food and Drug Authority (SFDA), que é a autoridade sanitária para alimentos e medicamentos da Arábia Saudita, para descredenciar 11 plantas brasileiras que exportam a carne para Arábia Saudita. A medida foi anunciada esta semana.
Ao se tornar pública, a decisão pegou as autoridades, entidades e as empresas brasileiras do setor de surpresa. Em nota emitida nesta quinta-feira (6), o Ministério da Agricultura informou que, junto com o Ministério das Relações Exteriores, busca maiores detalhes para o bloqueio, já que esses frigoríficos cumprem todos os requisitos sanitários exigidos.
“O Brasil reitera os elevados padrões de qualidade e sanidade seguidos por toda nossa cadeia de produtos de origem animal, assegurados por rigorosas inspeções do serviço veterinário oficial. Há confiança de que todos os requisitos sanitários estabelecidos por mercados de destino são integralmente cumpridos”, diz um trecho do comunicado.
A nota é finalizada com a sugestão do governo brasileiro ingressar com processo na Organização Mundial do Comércio (OMC) caso não sejam apresentadas justificativas que sejam convincentes.
A Arábia Saudita é o segundo maior comprador do frango brasileiro, o mais exportado do globo. Os sauditas eram os maiores importadores até 2019, quando a crise sanitária chineses fez a gigante asiática assumir o posto. Em 2020 a Arábia comprou 467 mil toneladas da proteína. Para a China foram vendidas 673 mil t.
Competição
Além da indústria de aves, a Almarai Alimentos atua nos nichos de laticínios, sucos e padarias. A empresa foi fundada em 1977, por um príncipe árabe em sociedade com investidores irlandeses. Com o tempo, os sauditas se tornaram os únicos donos.
Um dos principais focos do grupo é tornar-se, assim como fez com a genética de vacas leiteiras no fim da primeira década deste século, autossuficiente na produção doméstica de frango. Em agosto de 2019, o grupo passou a controlar 93,5% da inglesa Pure Breed Company, gigante da produção de ovos e aves.
Atualmente, os sauditas produzem cerca de 60% dos frangos que consomem. Em 2020, segundo a USDA, o consumo total local foi de 1,5 milhão de Toneladas. A população da Arábia Saudita é de 35 milhões de habitantes, mas com o aumento populacional de 2% ao ano, esse número deverá chegar a 40 milhões na próxima década.
O governo saudita é monárquico, sendo o 7º regime mais autoritário entre 167 nações pesquisadas pela revista britânica Thé Economist.
Por Alex Soares