Arroz 2021: saca acima de R$ 100,00 e produção prejudicada pelo tempo. Veja a análise dos produtores
Por Alex Soares
O arroz foi tema de debate da edição deste sábado do Conexão Rural. Participaram o presidente da Federação das Associações dos Arrozeiros do RS (Federarroz), Alexandre Velho, o presidente do Sindicato Rural de Pelotas, Fernando Reichsteiner e o presidente da Associação dos Arrozeiros de Camaquã e diretor da Federarroz, José Carlos Gross. Durante pouco mais de uma hora, eles falaram sobre os cenários que se desenham para a safra deste ano, mercado, consumo e da 31ª Abertura da Colheita do Arroz, confirmada para 9, 10 e 11 de fevereiro, em Capão do Leão.
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Faltando um mês para o evento, Velho destacou algumas das atrações da abertura, como os painéis que irão discutir a ampliação dos sistemas de produção, tecnologia e mercado, além das novidades aplicadas nas lavouras experimentais das vitrines tecnológicas. A abertura deste ano acontece em formato híbrido, com parte da programação sendo transmitida em tempo real pela internet, mas também com a visitação liberada, dentro dos protocolos aprovados pelo governo estadual e que tiveram a concordância dos prefeitos da região.
“A nossa prioridade é oferecer a informação aos nossos visitantes, mas com muita segurança”, anunciou o dirigente, ao comentar que os auditórios onde serão desenvolvidas as palestras serão abertos, montados sob três tendas, com circulação de ar e distanciamento entre os participantes.
Estiagem preocupa
Sobre as perspectivas da safra 2020-21, a preocupação com a falta de chuvas acompanha os produtores. Para Fernando Reichsteiner o desafio deste ano é o produtivo. Ele comentou que o déficit hídrico provocado por mais uma primavera e verão secos faz os produtores reverem manejos e os próprios cálculos de produção. “Boa parte dos lavoureiros da Zona Sul, que tem as suas áreas irrigadas pela Lagoa dos Patos e arroios próximos, já suspenderam a oferta desta água por causa da sua salinização”, informou Reichsteiner. O fenômeno ocorre em anos de níveis muito baixos da lagoa, que acabam proporcionando a entrada de água do Oceano Atlântico.
A mesma preocupação foi demostrada por José Carlos Gross, que também se queixou do nível reduzido da Barragem do Arroio Duro e do Rio Camaquã, principais irrigadores das lavouras locais. “Em função desta situação, nós produtores decidimos racionar o uso da água, com três dias por arrendatário das terras onde plantamos”, disse ele.
A falta de chuva poderá trazer consequências diretas a produção. Alexandre Velho foi enfático: “A área plantada não será a mesma da área colhida”. Ele diz que os produtores já começam a rever as suas metas de produção, o que poderá também impactar nos preços após a colheita.
Manutenção dos preços
Sobre o mercado, aliás, os entrevistados foram unânimes ao dizer que o valor da saca não deverá ficar abaixo da linha dos 3 dígitos. “Não tem razão de o arroz (casa de 60 kg) ser inferior a R$ 100,00”, afirmou Velho, ao imputar a mudança do padrão de consumo uma das fortes causas da estabilidade da valorização.
“Mesmo que o quilo chegue a R$ 5,00 nos supermercados o preço é baixo; uma família vai gastar o que por mês? R$ 25,00. Isso é pouco se formos falar que um litro de refrigerante custa R$ 5,00”, comparou Velho, ao lembrar em seguida que a maioria dos produtores de arroz do Rio Grande do Sul não conseguiu vender o arroz sequer a R$ 70,00 em 2020.
“Não é que o preço do arroz esteja ou vai continuar alto, ele agora está apenas menos barato”, completou Reichsteiner, ao frisar que uma das verdades confirmadas pelos desdobramentos da pandemia é que a qualidade do arroz produzido no Rio Grande do Sul é alta. “Ficou claro para as grandes marcas que não é bem assim importar arroz. Esse produto que veio de fora não serviu nem de perto aos propósitos da indústria”, comentou, se referindo ao cereal importado da América do Norte, que teve a Taxa Externa Comum (TEC) zerada temporariamente em 2020, para equilibrar o mercado brasileiro.
Otimismo com o Irga
Também conselheiro do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Reichsteiner mostrou otimismo com as mudanças pretendidas pela nova diretoria do órgão. “Notamos que após muito tempo, existe uma vontade política de um governo para transformar e modernizar o Irga”, disse, ao relembrar de recente reunião de dirigentes do setor com o governador Eduardo Leite.
Para Reichsteiner as medidas necessárias para o instituto poderiam estar num estágio mais avançado, mas a pandemia atrapalhou. “De qualquer forma estamos muito satisfeitos e otimistas com o novo presidente, Ivan Bonetti, e com os novos diretores”, falou.
Item prioritário da pauta de melhorias do Irga, o repasse integral ao instituto da Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura (CDO), também foi comentado pelo conselheiro. “Isso é importante e tomara que aconteça, mas isso por si só não basta. O Irga também precisa ter autonomia para operacionalizar esses recursos”, disse ele, ao lamentar as amarras burocráticas que impedem ações e investimentos de maior envergadura.