Centrão ou impeachment: o futuro do governo passa pela eleição da Câmara, diz deputado ao Conexão
Por Alex Soares
O deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS) e o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), Paulo Pires falaram na edição de sábado (19) do Conexão Rural.
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Nos mais 45 minutos de conversas, ambos resumiram suas impressões de 2020 e traçaram cenários para o ano que começa na próxima semana. “Foi um ano desafiador sob todos os aspectos”, pontuou Pires. Já Goergen, enxerga um cenário de crescimento em 2021, com a normalidade sendo retomada a partir do início da imunização da população brasileira e de uma união de esforços dos setores público e privado.
Ambos, entretanto, se mostram preocupados com a situação dos produtores gaúchos, atingidos por duas ondas de estiagem num mesmo ano. A primeira, mais severa, reduziu em quase a metade a produção da soja e um terço da colheita de milho, especialmente na região noroeste do Estado. A segunda seca, entre o segundo e último trimestre, causou perdas irreversíveis no milho e atrasou o plantio da soja. “O momento é delicado, pois se o tempo continuar atrapalhando nestes próximos meses é certo que teremos um aumento do endividamento dos produtores e boa parte deles saindo do sistema oficial de crédito”, alertou o parlamentar.
Paulo Pires lamentou a resposta nula do governo federal às solicitações encaminhadas pelas entidades gaúchas do setor com o objetivo de atenuar as perdas do primeiro semestre. “Sabe, não se trata de crítica, mas nos mobilizamos, fomos bem recebidos é verdade, mas em termos de resultados eles foram pífios”, desabafou o líder da Fecoagro gaúcha, ao lembrar que nada aconteceu de diferente na postura dos bancos no que tange a vencimento das parcelas do crédito rural ou em qualquer outra medida para desafogar os produtores prejudicados.
Goergen observou que as negociações para criação de linhas de crédito especial do BNDES para equalizar o passivo rural estacionaram em 2020 e os valores que seriam canalizados para esse fim acabaram irrigando o socorro a outros setores produtivos.
SEGURO E IRRIGAÇÃO
Sobre o seguro rural, os entrevistados elogiaram o esforço do atual governo para incrementar o volume de recursos para subsidiar o programa, mas observaram que os valores a serem desembolsados pelos produtores para pagar as apólices ainda são altos e que as indenizações demoram a chegar. “É que existe uma diferença grande entre previsão e execução de orçamento”, explicou o deputado ao justificar a demora do pagamento às seguradoras pelo governo.
Já sobre a necessidade de uma maior área irrigada das lavouras gaúchas, Paulo Pires diz que muitos nós impedem o avanço, como a falta de incentivo fiscal para compra de equipamentos e de outras políticas públicas que ofereçam condições para o produtor investir mais na captação e armazenagem de água. A legislação, segundo ele incoerente em diversos aspectos, é também outro empecilho. “Precisamos multiplicar essa área irrigada em pelo menos três ou quatro vezes, mas temos que oferecer condições para o produtor fazer isso”, sugeriu Pires.
TERRAS PARA ESTRANGEIROS E FUTURO
Outros dois temas abordados na entrevista de sábado foram a venda de terra para estrangeiros, cujo projeto foi aprovado pelo Senado Federal, e ainda o futuro dos brasileiros a partir da postura política, econômica e administrativa do governo de Jair Bolsonaro. Goergen acredita que os possíveis cenários de 2021 em diante passam pela eleição das novas mesas diretoras da Câmara e do Senado.
Para ele, uma série de movimentos mal calculados pelo governo corroboraram para uma encruzilhada nada confortável. “Se ganha (na Câmara) o candidato desse bloco de oposição que está sendo ensaiado, é certo que pedidos de impeachment vão começar a pipocar com mais força, se ganha o candidato do governo, a situação se estabiliza, mas o Centrão cresce muito, assim como as suas exigências”, disse.
Em relação a compra de terras por estrangeiros, Paulo Pires acredita que a ideia pode ser interessante, desde que haja contrapartidas e compromissos reais por parte dos compradores e que cada caso passe por avaliações criteriosas. Já Goergen se mostra contrário à ideia. Ao informar que o projeto ainda tem que passar pela Câmara para virar lei, o deputado disse ser difícil de prever um resultado.
Assista as entrevistas abaixo: