TRUMP, O 5G E O AGRONEGÓCIO - RISCOS CALCULADOS?
Quarta-feira, 21 de outubro de 2020
Um generoso pacote de vantagens ao Brasil deve estar sendo preparado na América do Norte para retribuir a posição do governo federal favorável aos EUA para explorar a tecnologia 5G no Brasil. Ontem, emissários americanos, o ministro da Economia, Paulo Guedes e o presidente, Jair Bolsonaro assinaram um acordo de intenção para investimentos americanos no Brasil, sobretudo na área das telecomunicações. O ato oficial também foi um recado aos chineses, concorrentes diretos dos EUA na corrida pelo domínio da internet de 5ª Geração, que promete ser dez vezes mais veloz que o sistema 4G.
A solenidade do Itamaraty não selou oficialmente nenhum contrato para implantação do 5G, já que que o leilão ocorrerá em 2021, mas o protocolo sugere que um grande passo foi dado em favor dos norte-americanos. As presenças de Robert O'Brien e Kimberly Reed remetem a um comprometimento. Trata-se, respectivamente, do conselheiro de Segurança da maior potência mundial e da presidente do EximBank, o Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos, agente financeiro do aporte de mais de R$ 5 bilhões nesses futuros projetos.
O pré-acordo se dá faltando duas semanas para a eleição que vai definir se o republicano Donald Trump permanece na Casa Branca por mais quatro anos ou se sua sala será ocupada pelo democrata Joe Biden. As pesquisas indicam equilíbrio. Ao emprestar a sua imagem de apoiador de Trump, Jair Bolsonaro aposta alto. Mas o que todos querem saber é: o que ganhará o Brasil se o atual presidente americano, irmão ideológico do chefe brasileiro, continuar? E se ele perder?
No campo comercial, nestes primeiros nove meses de 2020, as compras gerais americanas do Brasil chegaram a US$ 22,1 bi, uma queda de 14,1% em relação ao mesmo intervalo de tempo do ano passado. Já a China comprou mais 40% sobre 2019, atingindo US$ 46,8 bilhões. Nos negócios de produtos agrícolas o fosso é oceânico. Enquanto as importações chinesas do Brasil, até setembro, geraram US$ 28,7 bilhões, as compras americanas alcançaram US$ 4,9 bi.
Neste ano, de toda a produção agropecuária brasileira vendida para o exterior, 36,8% foram absorvidos pela China. Os EUA compraram 6,3%. Isso significa que a cada Dólar que os americanos deixam aqui em compras, a China deixa sete.
Nesta terça-feira, enquanto o governo brasileiro respaldava o discurso americano de colocar a idoneidade da Huawei, empresa chinesa que lidera a tecnologia 5G, em suspeição, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello anunciava a compra pelo governo de 40 milhões de doses de CoronaVac, a vacina chinesa contra a Covid-19. Num primeiro momento, até pareceu uma espécie de contrapartida. Mas não. Um dia depois, Pazuello foi desautorizado e o anúncio desfeito.
"Líder de um governo que já se mostrou defensor do agronegócio, Bolsonaro dever estar consciente dos riscos"
O presidente Jair Bolsonaro deve saber o que está fazendo ao posicionar o seu país em meio a uma guerra comercial-política das duas grandes potências do globo. Nos seus cálculos ele deve estar considerando as reações, as vantagens e as perdas causadas pela conversão do viés neutro da diplomacia brasileira.
Líder de um governo que já se mostrou defensor do agronegócio, Bolsonaro também dever estar consciente da significância da produção brasileira para a Ásia. E também da importância da manutenção das compras chinesas aos produtores brasileiros.
Por Alex Soares