Coluna, quinta-feira, 10 de setembro de 2020

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Frase do dia 
"O que o governo esperava que acontecesse colocando R$ 167 bilhões nas mãos de 63 milhões de pessoas?"

Economista Antônio da Luz, em entrevista ao Jornal da Globo, sobre a disparada dos preços dos alimentos. 

Velocidade diferentes 
E de uma hora para outra, o arroz ganhou as manchetes dos grande veículos e a ser protagonista de blocos intermináveis dos telejornais. Enfim, o dono mordeu o cachorro. Pacote de 5kg de arroz a 15,00, com o produtor recebendo R$ 40,00 pelo saco, não é pauta interessante. Muitos olham como fantasiosa a informação de que os preços da venda em determinados anos não cubriram o custo. 

Nestas safras difíceis, para autorizar um mecanismo que respalde a comercialização, é um parto, cujo feto geralmente não chega a ver a luz. Lembremos aqui da invasão do arroz paraguaio, há três anos, que achatou os preços locais. O setor pediu pouco, apenas mais rigor da fiscalização sanitária do cereal que entrava. Até hoje aguardamos os resultados deste trabalho. Quando o roteiro se invertou, a agilidade foi supersônica.  

Deu tudo certo para a indústria, que em apenas três semanas, conseguiu passar a ter vantagem que queria para importar. A decisão do Comitê Executivo da Camex, que vai zerar a alíquota de 12% para a compra de 400 mil toneladas, com vigência até o último dia deste ano, saiu na tarde desta quarta-feira. 
Sem efeito
A resolução da Camex , sugerida pelo Ministério da Agricultura, acontece uma semana depois daquela reunião da Câmara Setorial do Arroz, que por 16 a 6 votos, desaprovou a alteração da taxa. O pedido da isenção tinha sido formalizado pela Abiarroz- Associação Brasileira da Indústria do Arroz. 

Resignação 
Foi perda de tempo essa segunda reunião setorial. Lembro de um integrante desta teleconferência comentar que tudo tinha se deu num clima muito cordial, marcada por uma certa e estranha conformação dos representantes da indústria.  

Razão 1 
Honestamente, não acredito em joguinho de cena ou algo do tipo cartas marcadas. Tenho sim a convicção de que a produtora rural Tereza Cristina incentivou a medida por duas razões. A primeira foi a pressão política sentida pelo governo com a alta maluca dos preços da cesta básica. 

Razão 2
A segunda foi a visível falta de confiança nos dados oficiais que apontam para um estoque que garantiria o abastecimento de arroz até fim do ano. Isso foi constrangedor para Conab.

Efeitos 
E os efeitos da isenção, cujo decreto deve ser assinado nesta quinta-feira? Positivo para o produtor não é, isso é certo. A dúvida é saber o quanto isso pode lhe prejudicar - não neste ano, pois o que vier é lucro - mas na remuneração da próxima safra. 

Perguntas
Em que quantidade e velocidade virá este arroz de fora? De onde? A quanto? Mas isso pertence a indústria e lembremos que até o último dia de dezembro está valendo a regra. 

Certezas
O certo é que votação de câmara setorial e números da Conab têm peso atual zero. E neste país, produtor rural que coloca um pouco mais de dinheiro na sua conta, especialmente quem cultiva arroz, vira especulador. 

Reações 
Entre as lideranças dos produtores, alguns incrédulos com a medida, outros mais compreensivos. Do primeiro grupo, o diretor da Farsul, Francisco Lineu Schardong, que por muito tempo presidiu a Câmara Setorial do Arroz. 

Preocupação 
Ele não vê com bons olhos a isenção da importação e lembra que medida similar foi tomada em meados da década de 1990, no primeiro ano do presidente Fernando Henrique Cardoso. “Aquilo (isenção da tarifa) seria temporário e, depois, para derrubar, foi uma luta, enquanto entrava arroz de todos os lados”, alerta Schardong. 

ITR e declaração ambiental 

Assessor Técnico da Farsul, Derly Giradi lembra que o prazo de entrega da declaração do ITR (Imposto Territorial Rural) 2020 se encerra no dia 30 de setembro. Essa também é a data-limite para informar o Ato Declaratório Ambiental ao Ibama. Atraso dessas entregas significam multas e impedimentos para contratar financiamentos junto às entidades oficiais de crédito.   

Rápidas 
Confirmação - Posição crítica do economista Antônio da Luz sobre os benefícios da Conab estão sendo legitimadas nesta semana. Em grau e, principalmente, em números. 

Fator Halum - O secretário de Política Agrícola do Mapa, César Halum chutou ou cantou a pedra quando não deveria?

Sumiram? - Assim como esqueceram o R10 no Paraguai, na Covid, o preço do arroz fez os gafanhotos paraguaios saírem da pauta.