O governo Leite virou uma decepção para o setor arrozeiro  

O governo Leite virou uma decepção para o setor arrozeiro  

Coluna quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Frase do dia

A nossa meta é chegar a 100% de redução do desmatamento ilegal’

(Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desmentindo acusações de que modificações no plano plurianual comprometeria a meta estabelecida de 10 anos)  

Ouça o Podcast aqui.

https://soundcloud.com/onexoural/o-governo-leite-virou-uma-decepcao-para-o-setor-arrozeiro

 

Soluções para o Irga?

A aguardada reunião do secretário da Agricultura, Covatti Filho com integrantes do Conselho Deliberativo do Irga se limitou a debater a manutenção financeira e a reestruturação dos cargos do instituto de pesquisa. Realizada via digital, na tarde desta terça-feira, a audiência mirou numa proposta de “modernização” do orgão, apresentada por Covattinho e pelo seu adjunto
Luiz Fernando Rodrigues Junior.  

A pauta de sugestões da Seapdr contêm a intenção de fazer a CDO, que é a Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura, paga pelos produtores, ser integrada ao caixa do Instituto. De acordo com o mecanismo, um fundo a ser gerido por um conselho, captaria parte da arrecadação do total desta taxa, que nem chegaria à conta do Estado. A outra parte do depósito seria para saldar o custeio do órgão. Não é a invenção da roda. Esquema semelhante já vem sendo utilizado para garantir os ganhos dos desembargadores estaduais.  

Na prática, foi sugerida a implantação de um procedimento administrativo para o Irga receber os seus próprios recursos, gerados pela lavoura, e que por direito jamais deveriam ser tocados para pagar outras rubricas do Estado. São mais de R$ 45 milhões que vêm deixando de ser utilizados pelo instituto, originários das suas CDOs, por ano. O total dessa contribuição chega a R$ 100 milhões, enquanto R$ 55 milhões é o custo do órgão.   

Salários

Ao secretário também foi reforçada a necessidade de melhorar as condições salariais dos técnicos, de dar maior autonomia operacional ao Instituto e do retorno da lista tríplice para escolha do comando da entidade. Para resolver um dos maiores problemas do órgão, que é a baixa remuneração dos pesquisadores, dos agrônomos e dos técnicos das diversas áreas, Covatti sugeriu um sistema de remuneração a partir da meritocracia. A aplicação disso é que são outros quinhentos.  

Manda quem pode

Na reunião, o secretário Covatti Filho não deu muita corda ao assunto das nomeações políticas no Irga. Deixou claro que nada teve a ver com a troca recente de um cabo eleitoral por um técnico de carreira, num vital setor do instituto. Na própria Seapdr, informou, teria acontecido o mesmo. As imposições estariam vindo da poderosa Casa Civil.  

Nova rodada

Nova reunião do conselho foi marcada para o final da tarde desta quinta-feira, desta vez tendo como interlocutor o secretário estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão, Cláudio Gastal.

Dificuldades

E é ai que entra o problema. Irá o governo estadual abrir mão do mecanismo atual, que faz toda a contribuição entrar no caixa único, e dali, só ser depositado na conta do Irga o seu custeio? Na campanha eleitoral, Eduardo Leite se comprometeu em mudar isso. Tem até vídeo gravado com ele se comprometendo com a causa, para angariar o apoio dos arrozeiros. E teve. Um ano e sete meses de governo, Leite não fez nenhum gesto para valorizar o Irga, e por consequência o setor.

E o ICMS?

Aliás, os Federarroz e Farsul estão esperando até agora por uma resposta de Leite ao pedido de redução temporária do ICMS sobre o arroz em casca.

Saudade

Tudo isso faz aumentar a insatisfação do setor com o atual governo. Ao fim de uma conversa, um conselheiro confidenciou à esta coluna:  “Já estamos com saudade do Ernani Polo”. O progressista foi o secretário estadual da Agricultura antes de Covatti Filho.   

 

Parceiro 

O Líbano, onde houve a grande explosão nesta terça-feira, é um dos principais compradores de carne bovina e de gado em pé do Brasil.Em 2019, o país pagou US$ 76,98 milhões por 17,6 mil toneladas de carne brasileira. Do gado vivo brasileiro, o país é o terceiro melhor comprador em 2019, com US$ 52,9 milhões em pagamentos. As receitas turcas foram de US$ 116,9 milhões e as Iraquianas de US$ 89,2 milhões.

 

Fogo amigo 

Cientistas "brasileiros" escreveram uma carta de apoio ao estudo do pesquisador Raoni Rajão, da UFMG. A pesquisa é aquela que virou matéria na revista Science de julho, sob a manchete "As maçãs podres do agronegócio", que aponta que 17% da carne e 20% da soja produzidas nos biomas Amazônia e Cerrado e exportadas para a União Europeia estariam "potencialmente contaminadas" com o desmatamento ilegal. Na carta, assinada por pesquisadores da USP, da UnB, da Fundação Florestal do Estado de São Paulo e Universidade Católica de Louvain, Bélgica, consta que “a reação do agro foi contraproducente" com a matéria.

Acesse aqui a carta na íntegra:

https://cienciasociedade.org/o-agronegocio-brasileiro-continua-precisando-do-conhecimento-cientifico/ 

Metas de Salles

Bombardeado nas últimas semanas pela mídia organizada, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles voltou a ser manchete na abertura da semana ao propor mudanças nas metas de redução de queimadas e desmatamentos do Plano Plurianual 2020/23. Salles, entretanto, disse, nesta terça-feira, que isso nada muda a meta do Brasil de zerar o desmatamento ilegal  até 2030, como firmado no Acordo de Paris.

Firme e forte 

Aliás, já ficou cansativo o uso daquela imagem pelas “Tvs amigas” da fala de Salles na intensa reunião ministerial de abril, quando ele se referiu a “passagem da boiada”. Não que as porradas não tenham o deixado meio grogue, mas Salles continua firme no ringue, com a confiança plena do presidente Bolsonaro.  

Podcast Conexão Rural - Quarta-feira, 5 de Agosto de 2020