Sem defensivos produção gaúcha seria 3 vezes menor do que em anos de seca   

Sem defensivos produção gaúcha seria 3 vezes menor do que em anos de seca   

Coluna quinta-feira, 30 de julho de 2020

Frase do dia

“O que queremos demonstrar são as diferenças de eficiência produtiva entre os sistemas, para trazer a importância de tudo aquilo que a gente faz e como faz"

(Gedeão Pereira, presidente do Sistema Farsul)

Defensivos fazem mais do que defesa vegetal

 

No cândido mundo de alguns sonhadores nenhum humano encostaria numa maçã cujo canteiro tivesse recebido alguma aplicação de fungicida. Nele, o arroz orgânico, que seria abundante e acessível a todos, lhes garantiria saúde e uma vida quase eterna. E quem ousasse cultivar soja transgênica seria obrigado a comer generosas porções de chuchú, natural claro, até mudar de ideia.

O problema é que neste modelo perfeito de consumo alimentar faltaria o mais importante: a comida. Quando defendem colericamente as suas utopias, eivadas de distorcidos conceitos, esse pessoal suprime fatores essenciais, como por exemplo, o cálculo que relaciona quantidade de área versus o crescimento e quantidade de bocas ao redor do mundo a serem nutridas.

Só para separar um pouco a novela da realidade, um dado relevante: os orgânicos produzidos em 2020 no Brasil alimentariam a cidade de Porto Alegre por apenas 12 semanas.

Realidade comum

Um comparativo entre esse paraíso de Alice e o mundo real do João e da Maria foi minuciosamente preparado pelo sempre antenado Departamento de Economia da Federação da Agricultura do RS. Apresentado nesta quarta-feira, o estudo é focado na produção  riograndense, mas pode perfeitamente ser aplicado em outras regiões produtoras, respeitando as suas particularidades.

Custos

A meta inicial do levantamento foi cristalizar a indispensabilidade dos produtos químicos na produção de alimentos. E, principalmente: demonstrar que qualquer modificação nos seus valores vai elevar os custos de quem os utiliza. Mas os méritos dos apontamentos vão além.

Mudanças 

Esses dados já devem estar nas mãos do governador Eduardo Leite e dos secretários que embutiram na futura reforma tributária estadual a redução de 10% no incentivo da tributação diferida concedida aos fornecedores de insumos agrícolas. Isso elevaria em mais de R$ 1 bilhão a arrecadação do RS no ano. E para evitar que esse novo custo vá para a extensa tabela de custos do produtor é que a Farsul tem apresentado os seus argumentos.

Top Five

Abaixo, cinco tópicos para refletir sobre a contribuição que a agricultura convencional dá ao Estado e quais seriam as transformações se as lavouras não usassem os químicos e a biotecnologia.   

  1. Os hectares plantados teriam que aumentar em mais de 50%
  2. A produção cairia dos médios 49,2 milhões anuais de toneladas para 33,6 milhões de toneladas. Somente no arroz e na soja a queda seria de 4, 4 milhões de toneladas.
  3. O PIB do agro na economia gaúcha cairia de R$ 162,6 bilhões para R$ 111, 2 bi. Os R$ 51,3 bi de queda equivalem aos prejuízos de quase quatro secas como a que tivemos em 2020.
  4. O Estado, que fechou 2019 com um rombo de R$ 3,2 bi, deixaria de arrecadar R$ 5 bi de ICMS.
  5. R$ 10 bi é o custo dos produtores gaúchos com esses produtos a cada safra. Eles alimentam uma cadeia de 1240 pequenas, médias e grandes empresas gaúchas fornecedoras de insumos,  além de 128 lojas de cooperativas.  

Coletiva 

Esses dados foram apresentados, nesta quarta-feira, em coletiva de imprensa promovida pela Farsul via aplicativo Zoom. A conversa com jornalistas teve a participação do presidente da entidade, Gedeão Pereira, do seu diretor e coordenador da Comissão Meio Ambiente, Domingos Velho Lopes, do economista-chefe do Sistema Antônio da Luz, além do presidente da CropLife, Christian Lohbauer.  

Estigma

Ao justificar a iniciativa, da Luz condenou o que considera “estigmatização” e “preconceito” de alguns processos produtivos. “Quando esse estigma se veste de política pública, tributária ou coisas do tipo, isso exige uma resposta clara do nosso lado”, falou o economista.