Coluna CR - Sexta-feira, 24 de Julho de 2020

Por Alex Soares/

Frase do dia 

“O que a indústria precisa entender é que se não pagar o preço justo vai ficar sem matéria-prima.”

(Marcelo Moraes, deputado federal do PTB, na audiência pública da Assembleia Legislativa do RS que tratou da cadeia do tabaco)

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O sistema de classificação das folhas de fumo, utilizado pelas fumageiras do Vale do Rio Pardo, foi o ponto central de uma audiência pública promovida, nesta quinta-feira, pela Assembleia Legislativa do RS. Contrabando, mercado ilegal de cigarros no Brasil, garantia de renda e outros temas também foram discutidos na teleconferência, proposta pelo deputado Elton Weber (PSB), e que teve a participação do presidente da Afubra, Benício Werner e de Iro Schünke, presidente do SindiTabaco, além das entidades do setor, empresas fumageiras, e deputados estaduais e federais.

Uma combinação de fatores, entre o final de 2019 e a primeira metade de 2020, gerou um momento muito ruim para os produtores de tabaco. As chuvas lá de atrás sucedidas pela estiagem do verão comprometeram a qualidade do produto. E os compradores não perdoaram.

Esteira implacável  

E é justamente a baixa qualidade do fumo desta safra a justificativa que vem sendo apresentada pelos representantes das indústrias. Na reunião de ontem aconteceu o mesmo. O diretor da Souza Cruz, Carlos Palma disse que não foi privilégio desta ou daquela região a produção dum tabaco de baixa qualidade, foi geral, afirmou. Já o presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva, considera que o preço pago ao produtor “é um desrespeito”.

Protestos neutralizados 

Para Carlos Joel, o método de classificação do tabaco das empresas privilegia apenas as questões comerciais. “A soma da classificação abaixo do padrão e o custo da produção levaria naturalmente o produtor para as portas das fábricas de cigarro, este ano, reivindicar melhor pagamento. E isso só não ocorreu em razão da pandemia", protestou o dirigente.  

Abandono 

Além da alta exigência da esteira, os preços congelaram em relação ao ano passado. Para efeito de comparação: a variedade Virgínia continua com os mesmos R$ 9,30 ou R$ 9,50 de 2019. Participante da reunião, o deputado federal Marcelo Moraes (PTB) lembrou que nos últimos seis anos mais de 11 mil famílias deixaram a produção de fumo tendo justamente a remuneração do produto como um dos principais motivos.

Garantias

A maioria dos parlamentares que falaram defenderam a garantia de um preço mínimo, a ser acertado antecipadamente. E também o retorno da presença governamental, na hora de a indústria classificar o produto, como uma espécie de mediador.

Combinação 

O fato é que plantar tabaco é um negócio de alto risco. E como toda atividade, está tutelado às implacáveis leis de mercado. O roteiro é conhecido: maior produção e menor consumo é igual a preços baixos. E é justamente o que está acontecendo em 2020, com o quadro sendo piorado pela redução quase a zero dos embarques de fumo para Ásia, no primeiro trimestre. Isso reduziu à metade as exportações do fumo brasileiro. A expectativa agora é pelas compras chinesas do segundo semestre, que tradicionalmente são as responsáveis pelo grosso do volume vendido.

Estabilidade para cima

Nos últimos dez anos, os hectares plantados de tabaco nos três estados do Sul tiveram uma redução média de 20%, fechando 2019 com uma área de 298 mil ha. Mas a produção caiu menos, em torno de 8%, ficando na casa das 700 mil toneladas. A compensação também se deu pelo incremento da produtividade, que ficou na média em 5%.

Boom produtivo

Antes disso, a produção de tabaco no Sul tinha dado dois estouros de produção - um entre 1990 e 1999 e o outro de 2000 a 2009. Foram crescimentos de 41% e 49%, respectivamente. Ou seja, em 20 anos o volume de fumo produzido no Brasil dobrou. A oferta ampliou, mas a demanda interna diminuiu. O setor ficou dependente das exportações, que sempre exigiu um fumo de padrão superior.

Resoluções 

A audiência pública da AL serviu para colocar de forma clara as situações dos dois lados do balcão. Mas de encaminhamentos para futuras soluções pouco se avançou. Outras sugestões estão fora de questão, como por exemplo, a de um agente do governo plantado ao lado das esteiras, controlando as negociações entres entes privados. Isso não existe mais. Agora, exigir das fumageiras maior respeito e transparência, na hora de sentar à mesa para negociar os preços do ano é algo que o poder público pode cobrar permanentemente.

Apetite chinês

A China respondeu por 40% das exportações agrícolas brasileiras no primeiro semestre deste ano, segundo levantamento realizado pela Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura. Isso equivale a US$ 20,5 bilhões com as vendas de produtos agrícolas para os chineses. O valor é 30% a mais do que foram os primeiros semestres de 2018 e 2019.

Soja e carne 

De acordo com o documento, para cada US$ 1 exportado para a União Europeia, mais de US$ 2 são exportados para a China; enquanto para cada US$ 1 exportado para os Estados Unidos, quase US$ 7 são exportados para a China. Nas primeiras posições a soja, que vendeu 30% a mais e carnes, com crescimento de 114%.

Estreia

A partir deste sábado (25), estará fazendo a sua análise semanal, ao vivo, no programa Conexão Rural, o advogado Odacir Klein. Ex-secretário da Agricultura do RS, ex-ministro dos Transportes e ex-deputado federal, além de ocupantes de diversos cargos de relevância em novel federal e estadual, ele passa a formar com José Carlos Pires, que sempre fala de Brasília, a dupla de comentaristas fixos do Conexão. Será sempre às 8h30.

Em breve, outro valioso reforço também será anunciado.

Operação aprovada 

São considerados positivos os primeiros 15 dias do Programa Sentinela, de controle de trânsito animal na fronteira Sul. Em junho, tinha sido realizado um simulado, mas a operação efetiva começou no último dia 8. Segundo a Secretaria Estadual da Agricultura, houve a apreensão de animais de corredor (soltos na estrada), autuação de produtores e investigações da Polícia Civil. 

Controle

O gado de corredor é um dos grandes problemas na fronteira. Tanto pelo risco sanitário como pela chance de ser roubado. Houveram apreensões em estradas após denúncias de proprietários.  

Custos

O programa Sentinela abrange 1,2 mi Km das regiões de fronteira com o Uruguai e com a Argentina. Além dos recursos públicos do Estado, que promove as ações, o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal, o Fundesa, já investiu mais de R$ 180 mil no Programa. “O programa é amplo e vai contribuir para todo o sistema de defesa sanitária, atendendo as exigências do Ministério da Agricultura para o avanço de status sanitário do estado”, comenta Rogério Kerber, presidente do Fundesa.

Estratégias 

Representantes da Superintendência do Mapa no RS e da Secretaria Estadual da Agricultura se reuniram virtualmente, na tarde desta quinta-feira, para discutirem medidas para neutralizar as nuvens de gafanhoto, que até a noite de ontem permaneciam na fronteira entre a Argentina e o Uruguai.

Recursos

São 21 dias de aplicações de inseticidas contra os gafanhotos que os R$ 600 mil liberados pela ministra Tereza Cristina cobrem.

Mas os valores talvez não sejam necessários, pois pela previsão do tempo, teremos a volta do frio nessas próximas horas. E isso afugenta as nuvens de insetos.

Trigo e canola

O Informativo Conjuntural semanal da Emater, divulgado ontem, aponta que o plantio do trigo está quase concluído no RS. O tempo seco e os dias ensolarados destes últimos dias permitiram o avanço da semeadura. A cevada está 100 % cultivada, e na maioria das lavouras do noroeste do Estado, como Frederico Westphalen, já entrou na fase de desenvolvimento vegetativo.

Destino justo

Mais de 600 quilos de carne bovina foram doados a instituições assistenciais de Rosário do Sul. A carne tinha sido apreendida pela Fiscalização do setor de Defesa Animal da Seapdr com o apoio da BM. Os animais apreendidos, que não tiveram origem comprovada, foram abatidos e processados pelo Frigorífico Campeiro. O Hospital de Caridade Nossa Senhora Auxiliadora, o Lar dos Idosos São Francisco, a APAE e o Centro Terapêutico Desafio Jovem Esperança foram as casas beneficiadas.

Rápidas

Entrevista - Presidente da Farsul, Gedeão Pereira, participa do Conexão Rural deste sábado, às 8h. Na pauta, o aumento de custos da produção rural com a reforma tributária do governador Eduardo Leite.

Controle - Monitoramento estratégico feito pelos produtores argentinos da CRA na peste de gafanhotos é elogiável. E mantêm os produtores e entidades gaúchas informados.

Assis Brasil - Termina no dia 29 as inscrições para o Concurso em homenagem aos 50 anos do Parque Estadual de Exposições Assis Brasil, em Esteio.

Cultura - O concurso foi lançado com o objetivo de premiar os melhores artistas nas categorias “Pintura” e “Escultura-Símbolo”. O certame será realizado com o apoio da Secretaria Estadual da Cultura (Sedac), pelo Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVi).