Farsul: sai o conciliador, entra o técnico

No primeiro dia de 2026 o agrônomo e produtor rural Domingos Velho Lopes estará tomando as rédeas da federação de agricultura mais antiga do país. Receberá uma quase centenária Farsul mais cascuda, mas também mais arejada e aberta a uma sociedade torpedeada por falsas informações e que criou um conceito distorcido do setor.
Velho Lopes foi eleito nesta quinta-feira (3), em chapa única, com os votos de 120 dos 134 sindicatos rurais aptos a votar. O quórum, com mais de 90% dos sindicatos participando, mostra o engajamento dos filiados e comprova a confiança ao nome do presidente eleito e aprovação da gestão do presidente que sai.
De Mostardas, onde deu os seus primeiros passos como dirigente no sindicato rural local, Velho Lopes se destacou na pelo interesse e domínio da complexa pauta ambiental e suas implicações com o campo. De perfil técnico, se tornou um especialista na área, sendo hoje um dos dirigentes rurais que mais conhecem a legislação ambiental do Brasil, sabe sobre os acordos climáticos do mundo e as suas políticas, os bastidores e as burocracias.
Com Velho Lopes, nesses últimos anos, a Farsul se tornou a principal catalizadora das demandas da produção rural gaúcha pressionada e castigada pela forte cartilha ambiental-ideológica. Liderando um sincronizado grupo técnico que ele formou, decisões e penalizações foram contestadas e revertidas juntos aos órgãos de fiscalização e de Justiça.
Ele vai suceder ao veterinário e produtor rural em Bagé Gedeão Silveira Pereira, que sai da presidência após intensos oitos anos, nos quais imprimiu um estilo próprio de gestão a uma Farsul que vinha sendo administrada há duas décadas por Carlos Sperotto, cuja atuação foi marcada pela imposição e demonstrações de força num período em que a esquerda se esforçava para descontruir a imagem da produção rural.
Com um perfil conciliador, Gedeão fez uma administração oposta a do seu antecessor, falecido em 2017. Menos centralizador, delegou mais, ouviu muito antes de tomar decisões e chamou para baixo das asas da entidade organizações representativas menores, dando voz e prestígio às lideranças emergentes do setor. Essa postura, porém, em nenhum momento indicou crítica ao antecessor, o qual sempre Gedeão fez questão de demostrar lealdade, reconhecimento e respeito.
"Ao deixar a presidência, Gedeão Pereira deixará a Farsul menos rotulada e mais aberta à uma sociedade que passou a entender melhor a importância do agronegócio na economia e na vida de cada um"
E não foram poucas as batalhas e as dificuldades nesses dois mandatos e meio que passou por pandemia, estiagens e enchentes. Uma recente prova do protagonismo da Farsul foi ter sido a interlocutora das discussões para a busca de soluções do endividamento do agro gaúcho junto ao governo federal.
Método de administrar e de agir que projetou Gedeão e fez dele ser o 2ª vice-presidência da Confederação Nacional da Agropecuária (CNA), onde responde também pela Diretoria de Relações Internacionais. Discreto, mas eficiente nas missões a ele conferidas, caiu nas graças do presidente da confederação, o baiano João Martins, que o convidou para ser agora o seu primeiro vice-presidente em novo mandato que começa em 2026. Esse é o cargo mais alto que um dirigente gaúcho chegou na entidade-mãe das federações.
Após a eleição desta quinta-feira, Gedeão foi repetitivo ao dizer se sentir honrado com o cargo na CNA. Também honrados devem se sentir os produtores ruais gaúchos que terão um homem de fundamento representando os seus interesses em Brasília.