Profissionais na produção, amadores no consumo

Você sabe qual a variedade de arroz que coloca na panela? A resposta é não. Nós sabemos o tipo, se é longo, ou parboilizado, integral ou de cachinho. Mas informações sobre a cultivar que derivou esse ou aquele pacote do cereal, a região onde foi plantado e colhido não sabemos. E não sabemos porque faltam essas descrições nas embalagens. Somos profissionais na produção, mas amadores no consumo.
Ontem acompanhei aqui em Pelotas, onde participo do XIII Congresso do Arroz Irrigado, de um curso de análise sensorial de arroz. Durante a tarde, o produtor rural, melhorista e sommelier de arroz Mássimo Biloni mostrou a um grupo de convidados, entre eles chefes de cozinha, o quanto determinada variedade serve para esse ou para aquele prato. Ele falou dos diferentes arrozes, cujas características definem seus cheiros e sabores.
Assim como o vinho, a qualidade do arroz é definida pelo seu terroir. E essa combinação de solo, clima, altitude, exposição solar e até mesmo a proximidade com o mar formam a reputação do produto e o seu valor. Na Itália, que produz 250 mil toneladas de arroz, informou Massimo, essa visão do consumidor tem um outro conceito. Com informações claras e mais completas, fica mais fácil atender às exigências de consumo e incentivá-lo.
Esse tema será mais explorado neste congresso, assim como outros assuntos também técnicos como o manejo e o mercado. O evento é realizado no espaço do Sesi em Pelotas, para onde o evento retorna após dez anos e cujo local deverá receber 600 participantes até quinta-feira (14).
O fato é que não somente no arroz, mas na maioria dos produtos que chegam aos supermercados brasileiros faltam informações da sua origem. No arroz, há anos que a cadeia discute a adoção de um processo que garanta a quem consome a disponibilidade desses dados na hora da compra. Mas a prática ainda é vista como complexa, que geraria mais custos.
A disponibilização de dados como esse da variedade e da região de cultivo daria mais transparência a todo o processo de produção, oferecendo um novo conceito de relação do produto com o consumidor. E isso, sem dúvida, se converteria e melhor valorização. Afinal, existem produtos para todos os bolsos.
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A coluna diária de Alex Soares é reproduzida também em áudio para os programas Primeira Hora e Redação Acústica (Rádio Acústica FM), Bom Dia Cidade e Boa Tarde Cidade (Rádio Tchê São Gabriel) e Jornal da Manhã (Tchê Alegrete). Ouça abaixo