Prazo para selo de rastreabilidade exigida pela UE se encerra no final do ano. Saiba quais os produtos e quanto custa certificar

Por Alex Soares
Previsto formalmente para entrar em vigor na virada de 2025 para 2026, o regulamento europeu que exige a rastreabilidade sócio-ambiental dos produtos destinados aos países do bloco ainda é pouco conhecido pelos agropecuaristas brasileiros.
Aplicada inicialmente para soja e seus subprodutos, café, carne bovina, óleo de palma, cacau, borracha e madeira a certificação é mais simples do que possa parecer e existem empresas especializadas na execução do processo.
Uma dessas empresas é a Amspec, corporação de origem norte-americana que possui sedes em todo o mundo. No Brasil, a Amspec mantém um centro técnico em Santos (SP), além de 11 escritórios em outras cidades e capitais do país. No sábado (12), o Conexão Rural entrevistou o CEO da empresa na América Latina, o uruguaio Alejandro Carvalho (Veja entrevista abaixo).
Desde Montevidéo, onde passou o final de semana após mais uma semana de viagens pelo Brasil e por países da América do Sul, Carvalho alertou sobre a urgência dos produtores, indústrias, cooperativas e traders estarem em conformidade com as regras:
“Veja bem, isso não é opção para quem exportar, é lei. E produtos sem o selo de origem não serão aceitos na Europa a partir de 2026”,
ressaltou o CEO, engenheiro agrônomo por profissão e que serviu como dirigente da Asociación Rural del Uruguay (ARU) por 25 anos, sendo 16 desses como diretor de Exposições. Ele atuou neste período na organização de um dos mais tradicionais eventos da América do Sul, a feira Rural del Prado, em Montevideo.
O EUDR (European Union Deforestation Regulation) - Regulamento da União Europeia sobre Produtos Livres de Desmatamento foi aprovado em 2023 pelos 27 países membros do bloco. Inicialmente previsto para ser implementada em dezembro de 2024, o Parlamento Europeu adiou o prazo para os exportadores (produtores empresariais, operadores, indústrias, traders) se enquadrarem nas novas regras para o 31 de dezembro de 2025. Já os micros e pequenos exportadores terão até 30 de junho de 2026 para se adequarem.
Ajuda mais ainda a justificar a urgência desse carimbo ambiental a atual guerra tarifária provocada pelos Estados Unidos. Apesar de acreditar numa futura flexibilização das medidas, Alejandro Carvalho analisa que isso disparou um inconfundível alerta para os países europeus apressarem os seus movimentos de consolidação com outras regiões fornecedoras.
Sinal disso, diz ele, é a iniciativa de o gabinete executivo da União Europeia retomar as negociações do acordo comercial com o Mercosul. “Nesse ponto, o Brasil é o principal beneficiado, por sua diversidade produtiva e por suas escalas de produção”, pontua o CEO da Amspec.
Um exemplo de setor que vem sendo atendido pela Amspec é o de Borracha. O executivo diz que a empresa que representa vem atuando forte na regulamentação da borracha processada na região de São José do Rio Preto, noroeste paulista onde estão concentradas 70% das beneficiadoras dessa matéria-prima, proveniente em sua maioria de seringais da própria região. Hoje, por 67% das 150 mil toneladas de borracha brasileira são produzidos ali, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nessa região, a Amspec vem trabalhando com a certificação de mais de 300 fornecedores. Parte significativa da produção da borracha processada no noroeste paulista é exportada, uma parte já industrializada. A outra é destinada para a indústria de pneus na Alemanha.
“Ter esse selo de rastreabilidade do produto é fundamental para esse setor manter ou expandir os seus negócios”,
observa Carvalho.
Processo e custos
Alejandro Carvalho explica que a partir da contratação da empresa começa um estudo técnico da área cultivada que cruza dados atuais com o histórico da propriedade e da produção, além das informações da indústria receptora. Um software de rastreabilidade entra em campo para processar esses dados e gerar o documento. O tempo do estudo referente à propriedade, que conta com a visita de um técnico, leva em média três dias.
Carvalho informa que faz parte do protocolo da Amspec essa visita à fazenda. “Há empresas que fazem todo o processo a distância, tudo de forma digital, mas preferimos saber o que e a quem estamos certificando, afinal a nossa reputação também está em jogo”, comenta ele, ao informar que faz parte do pacote um estudo de georefenciamento.
Sobre o investimento que cabe aos produtores, Carvalho costuma compará-lo ao valor pago pelos usuários da plataforma de áudio da internet Spotify:
“É um serviço que fica em torno de US$ 200,00 a US$ 250,00, o que corresponde de US$ 15,00 a US$ 20,00 por mês”.
Importante salientar que não existe a necessidade de se levantar os dados das propriedades todos os anos.
Exportação triangulada
O EUDR deverá em breve incluir outros produtos na lista e é necessário também o produtor entender que o selo de rastreabilidade vale também para produtos que são indiretamente exportados para UE pelo país de origem. Por exemplo, um carga de nuggets de soja beneficiada na ásia ou na Oceania. terá que conter obrigatoriamente a informação da origem de sua matéria-prima. Isso vale para o biocombustível, para o café, para o demais produtos da atual lista e do que serão inseridos em breve.