Por Alex Soares

Eduardo Leite é um animal político. Soube que nasceu para isso tão logo sentiu que um gesto aqui ou uma palavra ali poderiam mudar as coisas. E cedo viu que, misturados na dose certa, bons argumento e imagem são decisivos num campo em que o poder de convencimento é medular.

Ao tornar público nacionalmente aquilo que os pelotenses e gaúchos sabiam, o governador Eduardo Leite (PSDB) deu um largo passo para o seu atual desejo: ser mais conhecido no Brasil e se fortalecer entre os tucanos. O objetivo é se tornar a terceira via da disputa presidencial em 2022 pelo PSDB.

As reações à entrevista dada a Pedro Bial, que foi ao ar na madrugada desta sexta-feira (2) na Rede Globo foram imediatas. É cedo ainda para avaliar o efeito da manobra, mas a primeira sensação é de aprovação. Ao menos nas redes sociais, os aplausos sufocaram as vaias.

Mas saliente-se: o Brasil não se resume à agitada Cidade Baixa ou ao pioneiro Leblon e, em boa parte, a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 se deve a um agudo traço conservador do povo.

Se o protagonismo do PSDB paulista se confirmar, o candidato oficial a ser anunciado no final do ano deverá ser o governador de São Paulo, o midiático João Dória. Derrota confirmada, Leite concorrerá ao Senado. Mas isso não são favas contadas. Depois desta madrugada, tucanos mais estrategistas avaliarão melhor a viabilidade eleitoral de cada um, afinal, a meta real e final é o poder.

E a questão é que para se constituir uma terceira via, o caboclo selecionado terá que tirar caminhões de votos de Bolsonaro e de Lula – e também fazer os seus próprios.

Além de ser parte do seu plano tático eleitoral, a confirmação pública da sua orientação íntima é um ato de arrojo do governador do Rio Grande do Sul. Ao iluminar uma penumbra outrora proibida, sobretudo no meio político, a decisão de Leite é um golpe no preconceito e na falsa moral.

Mas ao fim e ao cabo, a plateia irá julgá-lo sob outros critérios, como os que avaliam a sua eficiência e sua probidade. Na parte da integridade, não existe nada que o desabone. Na eficiência, porém, ele tem muito ainda a provar. Eduardo Leite é apenas mais um político. Um político moderno é verdade, mas apenas mais um político.