A degola de Geller tem as digitais de Fávaro

A degola de Geller tem as digitais de Fávaro

O valor do prejuízo político do governo Lula com a importação inoportuna de arroz poderá ser proporcional ao preço do produto tailandês que a Conab pretende - ou pretendia desembolsar.

Nas primeiras escavações, feitas após o leilão, agora anulado, que negociou 263 mil toneladas a R$ 1,3 bilhão do Tesouro Nacional, as pás trouxeram elementos para criar uma CPI para investigar a compra.  

Além das empresas que se habilitaram à operação, uma figura conhecida no setor rural foi atraída para o centro da polêmica. Neri Geller (sim, ele de novo), secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura até essa terça-feira.

Responsáveis por quase a metade da intermediação da compra do arroz do leilão, a Foco Corretora de Grãos e a Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT), de Cuiabá (MT), pertencem a Robson Luiz de Almeida França. Ele foi assessor no gabinete de Geller na Câmara dos Deputados, em Brasília, entre 2019 e 2020.

França também é sócio de Marcelo Geller, filho de Neri, numa outra empresa, a GF Business LTDA, fundada em 2023. Para completar, outro ex-assessor de Geller, Thiago José dos Santos, que trabalhou com França no gabinete da Câmara, está como diretor de Operações e Abastecimento da Conab, justamente o departamento que coordena os leilões.

Antes da sua exoneração, anunciada nesta terça-feira (11) pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, Geller ainda se debateu na rede. À imprensa, negou qualquer favorecimento aos seus próximos e disse que falou com o filho, que mora em Florianópolis, e que esse o tranquilizou.

Não é a primeira vez que o gaúcho Geller tem o seu nome ligado a esquemas. Em agosto de 2022 teve o seu mandato de deputado federal cassado e foi impedido de disputar o Senado pelo MT por mascarar movimentação financeira de campanha, usando inclusive uma conta bancária do filho. A decisão do TRE-MT foi mantida pelo TSE. A decisão só foi revertida em dezembro de 2023 pela mesma Corte eleitoral.  

Foi o sinal verde para Geller assumir o cargo que vinha ocupando até essa semana no Mapa. Na verdade, por sua fidelidade a Lula e ao PT e por seu auxílio na campanha na condição de meio-campista com o setor rural, seria Geller (PP) o ministro. O processo o impediu.

Mas sua intimidade com os petistas vem de antes. Ele chegou a ser ministro da Agricultura no governo Dilma Roussef, depois de responder pela Secretaria de Política Agrícola no governo Lula 2.

Natural de Selbach, Neri está com 56 anos – a maior parte deles como produtor rural e empresário na região de Lucas do Rio Verde (MT), onde exerceu seu primeiro cargo público em 1996 como vereador pelo PSDB.

Em 2006 sua carreira política deu um salto ao liderar o “Grito do Ipiranga”, um protesto de produtores de soja mato-grossenses deflagrado no município de Ipiranga do Norte contra a política agrícola do governo Lula.

Já como deputado federal se aproximou dos petistas, ao ponto de exercer os cargos executivos no Mapa. Se as novas amizades lhe conferiram poder, se mostram pesadas mais tarde. Em 2018 foi preso na Operação Capitú, derivada da Lava Jato por ser um dos beneficiários de propina da JBS. Nessa mesma operação foram presos o empresário Joesley Batista e o ex-ministro da Agricultura Antônio Andrade, mineiro e irmãozaço de Geller.

Respostas

Nesse contexto todo uma informação é relevante: segundo fontes que acompanharam de perto o processo do leilão, Geller foi uma das vozes contrárias à compra de arroz pela Conab ao ponto de irritar o ministro. Se agiu simulamente, o tempo e algum delator dirá. 

O fato é que a saída de Geller do governo resolve temporariamente alguns problemas. Primeiro é uma resposta ao congresso cuja oposição ensaia a abertura de uma CPI para investigar o leilão de arroz da semana passada.

Para a imprensa e sociedade, um recado de um governo formado por integrantes com extensa ficha de corrupção e que precisa parecer sério.

Já para Carlos Fávaro, que carregou a bandeja de prata com a cabeça de Geller ao Palácio, será um alívio. Enfim, ministro! Sem a sombra do careca.