Produtores rurais gaúchos aguardam com expectativa cautelosa a vinda do ministro Carlos Fávaro ao Estado, nesta terça-feira (28). Num momento inédito de perdas do setor em função das cheias, os produtores querem mais do que as prorrogações por 90 dias das parcelas dos financiamentos bancários ou das fábricas de máquinas. Sabem que para se reerguerem irão precisar de dinheiro com longo prazo para pagar e baixo custo.

O problema é que não há o menor indício de que Fávaro venha com uma notícia que traga um alento aos produtores de maior escala, aqueles responsáveis pelo grosso do PIB da produção agropecuária gaúcha e por milhares de empregos.  

O pedido da Federação da Agricultura do Estado, a Farsul, está nas mãos do Mapa, que até aqui não deu retorno. Uma linha de crédito com recursos proporcionais ao endividamento dos produtores, com 15 anos de prazo, sendo dois de carência e taxa de juros que acompanhe a meta inflacionária do Conselho Monetário Nacional (CMN), hoje na casa dos 3% é a principal solicitação.    

Nesta segunda-feira (27), em entrevista coletiva da Farsul, foram divulgados dados de um levantamento feito pelo movimento SOS Agro com 550 produtores rurais. Os dados oferecem uma prévia do tamanho dos prejuízos nos campos gaúchos. Produtores de área maiores informaram perdas que chegam a até R$ 25 milhões. Entre pequenos, médios e grandes a média das perdas é de R$ 1,4 milhão. Desses que responderam as perdas são de quase meio milhão de reais.  

Num cálculo prévio, no entanto, levando em conta a área inundada de soja - a mais atingida - e outras culturas, a Farsul projeta um prejuízo inicial de R$ 3 bilhões.

“Precisamos de medidas de excepcionais para um momento de exceção”, disse o presidente da Farsul, Gedeão Pereira que lamenta que até aqui, na prática, os anúncios governamentais se limitam às prorrogações dos vencimentos das parcelas dos financiamentos. “Precisamos bem mais do que a entrega de máquinas às prefeituras”, ponderou o dirigente se referindo a um dos motivos anunciados pelo Mapa da visita do ministro Fávaro ao Rio Grande do Sul.

Em nota, o Mapa informa que o ministro estará às 11h desta terça-feira (28) em Santa Cruz do Sul, participando da cerimônia de instalação do “gabinete itinerante do Ministério da Agricultura e Pecuária do RS, com o objetivo de tratar de demandas para a reconstrução do agro gaúcho, afetado pelas fortes chuvas e enchentes”. O evento está marcado para ser realizado no Parque da Oktoberfest.

O economista da Farsul, Antônio da Luz fala que os números das perdas não são definitivos porque a cada dia que se passa eles se modificam. "Ainda temos produtores que nem conseguiram chegar nas suas propriedades para saber o tamanho do problema", ponderam o economista.

Dois dados desse levantamento do SOS Agro, coordenado pela produtora rural Graziele de Camargo, chamam a atenção por seus impactos.

1. De 534 produtores que responderam se possuiam ou não dívidas de safras anteriores, 59,4% deles resposnderam positivamente.  

2. De 539 produtores que responderam que possuem colaboradores, 49,4% disseram que empregam até cinco funcionários. E se nada mudar, a metade desses patrões irá promover demissões por não poder manter os contratos.