Um jantar de 16 bilhões de dólares

Um jantar de 16 bilhões de dólares

A presença do presidente da República no jantar da CNA, em Brasília, nesta quarta-feira (10), valorizou um fiel, porém desconfiado setor rural. Também fortaleceu a imagem da ministra Tereza Cristina, num momento duro de negociações entre Mapa e área econômica, e a própria CNA, que articulou a aproximação . E o mais importante: foi um gesto de respeito de Jair Bolsonaro para com os países compradores da chamada liga árabe.  

O jantar da Confederação Nacional da Agricultura começou a ser costurado pelo presidente da entidade, João Martins. Ele e o seu diretor de Assuntos Internacionais e presidente da Farsul, Gedeão Pereira, visitaram o ministro Ernesto Araújo no Itamarati em março, a quem mostraram preocupação com um ambiente comercial hostil que se formava com os árabes após os recíprocos afagos entre Bolsonaro e o premier israelense Benjamin Netanyahu. 

Paralelamente, a ministra da Agricultura buscava distensionar a situação, pregando ao chefe a necessidade de um encontro com os árabes. Na semana passada, Bolsonaro confirmou pessoalmente a João Martins sua presença.  

Foram 37 os países representados no encontro desta quinta na Confederação que representa os produtores, mas cuja articulação beneficia também a indústria exportadora. Estamos falando de um comércio de US$ 16 bilhões.

Os países árabes são o terceiro bloco que mais importa do agro nacional, sobretudo cargas de proteína animal. A CNA sabe que o fluxo desta artéria comercial é fundamental e, ao lutar em mantê-lo, ganhou em legitimidade e prestígio.  

Participante do jantar, o presidente da Farsul classificou o momento como especial e estratégico. "Creio que tudo foi bem explicado, e ao final, a tensão deu lugar ao entendimento", comentou o dirigente gaúcho ao Conexão Rural. 

Num discurso sob medida aos convidados, Bolsonaro buscou apagar a imagem sectária formada com a vinda de Netanyahu ao Brasil e sua ida a Israel, reforçando a importância das relações com todos os países. 

Já da parte dos muçulmanos, reconhecimento à iniciativa e  cordialidade. Líder do grupo, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben comentou que o jantar teve a virtude de "quebrar o gelo após ruídos nas relações diplomáticas". 

Alzeben também comentou em tom de conselho que o bloco "pretende manter boas relações com o Brasil, mas que o país fique longe do conflito entre judeus e árabes, já que esse conflito não é do Brasil".

Mais claro impossível. 

 

Por Alex Soares

Foto: Divulgação CNA